Postagens

Mostrando postagens de 2008

Henrique

Imagem
Eu nem sabia. Mas o fato é que tenho um escritor em casa. Fui pego de surpresa, ele deixou como papel de parede em nosso computador. Não resisti. Publico o texto do Henrique, filho querido, e espero que apreciem tanto quanto um pai apaixonado. Se clicar sobre a imagem, fica bem mais fácil para ler.

Quem me vê e não me viu.

"Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. " (Carlos Drummond de Andrade) No começo foi de brincadeira. Ou talvez nunca tenha sido de brincadeira, não estou certo. Mas a verdade é que um dia, sozinho em casa, resolvi conhecer os efeitos que a maconha teria sobre mim. Tossia como se estivesse engasgado com o mundo, mas insisti. Nunca fumara nada, e estava finalmente quebrando tabus, era assim que pensava. Os colegas se deram por satisfeitos, até que enfim, a gente pensava que você era "careta". Assim como tantos, comecei a chamar os que não fumavam de caretas e passei a frequentar um mundo de não-caretas, de muito loucos, que faziam o que bem queriam. Não tardou muito para querer fazer coisas bem piores, usar drogas mais pesadas. Bebia muito, cheirava todas...e a vida transcorria como sempre, eu pensava. Só bem mais tarde percebi o quanto a vida passou mais rápida, e o quanto afunda

Meu Pai

Rabiscos insensatos. Remendos de sentimentos. Tudo...tudo...tudo...reticências... Como uma colcha de retalhos que precisa ser descosturada, desmontada, para que possa ter outra cara, outro jeito. Quem sabe, outra função. Confusões que não se fundem, nem temperam o molho da vida concedendo um sabor mais doce. Pânico na periferia. De minha cidade. Do meu mundo. Pânico no centro de meu universo. Era tarde quando eles chegaram. Trouxeram notícias novas, mas não melhores do que as que esperávamos. O telefone tocara na madrugada e, ao atender, a voz não queria contar, pensou, repensou, escolhendo as palavras, escondendo os sentimentos. Do outro lado, ninguém queria ouvir, ninguém quereria me contar. Falaram para eu ligar, que a notícia, quem amava me daria. Pensei em não fazê-lo, não, eu não, não queria ouvir, não queria acreditar, a vida tão breve, o amor tão profundo, ele que não se desse ao luxo de me abandonar, não agora, que meu filho apenas aprendera a chamá-lo vovô, que eu finalmen

Falando sério

Penso, algumas vezes, nos motivos que levam muitas pessoas a não aceitarem o diferente. Acostumam-se de tal forma ao igual, ao conhecido, ao estabelecido que, ao se depararem com aquilo que não é igual a alguma coisa que conheçam, de tanto estranhamento, preferem não se aproximar. O mais engraçado, se é que isso tem alguma graça, é o fato de, na maioria das vezes, se definirem como pessoas sem preconceito. Pergunte a alguém na rua sobre preconceitos: assim, de pronto, estou certo que quase a totalidade se dirá totalmente contra. Converse com ela, conviva e espere. Mais tempo, menos tempo você o verá rindo de alguém por alguma diferença, seja física, intelectual, ou então o fará fazendo algum comentário que ridiculariza o desigual. E qual será o motivo que leva a esse tipo de comportamento? Sabemos da existência de padrões físicos, intelectuais, e tantos outros que são inventados e celebrados pela mídia. Sabemos ainda quanto custa ser exceção a esses padrões. Essa disseminação da cultur

Conto em rima

Foi de repente. É verdade que ele já a convidara antes, mas ela sempre insistia em dizer não. De forma que prometera inúmeras vezes não mais repetir o convite, ela que se dane, quer saber, vou é ficar na minha. Não que tivesse ainda qualquer esperança. Aliás, desde muito nem mais acreditava nessa palavra, esperança, eu, nem pensar. De modo que foi mesmo no relance, um piscar, e quando menos esperava, lá vem ela perguntar se podia ir com ele visitar algumas amigas, na cidade dele, fim de semana, algum tempo para nos conhecermos melhor. Não se empolgou muito. Passar o final de semana com as amigas, não comigo, isso sim. Mas resolveu ceder, quem sabe agora, vamos ver. E não foi que ela quis passear com ele, sábado a tarde, tempo nublado? E não foi que deixou que ele se mostrasse, se abrisse? E caminharam, tanto que se esqueceram do cansaço, tudo tão calmo. E o tempo parou por aquelas horas, nada havia no mundo que não aquele momento, aqueles minutos. E ninguém acreditaria se dissesse, mas

Conto ou não conto

Podia não ter significado absolutamente nada. Era apenas uma tarde ensolarada como tantas outras, final de aula, ônibus atrasado, quase nenhum dinheiro no bolso, na carteira, no banco, nada de novo, nada, só aquela vontade de rever aquela moça, aquela face, sorriso, cabelo. Ponto de ônibus, gente conhecida, todos amigos amigas colegas. Tudo igual. Quem diria que ela se sentaria ao seu lado? Quem diria que ela perguntaria: puxa, porque você tá tão estranho? E ele? Responderia? Se calaria? Respondeu. Apaixonado, sim, mas por quem, não falo. Ela, delicadeza que dava amor, não perguntou, não quis saber. Só disse que boba aquela que não queria. Se ela, quereria. A palavra veio na boca, o coração pulsou tão forte que deu vontade de gritar, o calor o fazia suar, corou, sentio enjôo - embora se perguntasse o que era aquele aperto no seu estômago - fingiu não ter entendido, medo medo medo, pavor, mediu as palavras, como falaria, chorou - por dentro, embora as lágrimas insistissem em mostrar o c

Tô chegando agora...

Tá certo. Tudo bem. Vamos lá. Sei que todos estamos em busca da verdade. Não quero dizer apenas do conceito filosófico, mas a verdade inserida na realidade de cada um, os motivos, as razões, o que leva alguém de bom (ou de mal) juízo a querer sair juntando letras, palavras, frases. Então lá vai: a verdade é que sempre quis escrever, mesmo na faculdade era conhecido pelos poemas, escritos de todos os tipos, bilhetes de amor, cartas abertas para a comunidade acadêmica. Depois vieram os filhos e lá fui eu montar currículos, enfrentar entrevistas, montar planilhas, e as palavras insistindo em sair de minha cabeça direto para o papel, para o monitor (embora sempre me pergunte como é que essas letrinhas vêm parar na minha frente), e a escrita, gente, sempre tomando parte dos meus dias. Mas nem sempre escrevendo sobre os meus verdadeiros interesses. Não expondo de fato minhas idéias sobre a intensidade da vida, nem sobre a delicadeza do amor. Devo dizer que, a princípio, fiquei um pouco temer