Falando sério

Penso, algumas vezes, nos motivos que levam muitas pessoas a não aceitarem o diferente. Acostumam-se de tal forma ao igual, ao conhecido, ao estabelecido que, ao se depararem com aquilo que não é igual a alguma coisa que conheçam, de tanto estranhamento, preferem não se aproximar. O mais engraçado, se é que isso tem alguma graça, é o fato de, na maioria das vezes, se definirem como pessoas sem preconceito. Pergunte a alguém na rua sobre preconceitos: assim, de pronto, estou certo que quase a totalidade se dirá totalmente contra. Converse com ela, conviva e espere. Mais tempo, menos tempo você o verá rindo de alguém por alguma diferença, seja física, intelectual, ou então o fará fazendo algum comentário que ridiculariza o desigual.

E qual será o motivo que leva a esse tipo de comportamento? Sabemos da existência de padrões físicos, intelectuais, e tantos outros que são inventados e celebrados pela mídia. Sabemos ainda quanto custa ser exceção a esses padrões. Essa disseminação da cultura do belo estereotipado, esse ranço que obstrui o desenvolvimento das relações que aceitam as diferenças, ou até mesmo a expectativa dos pais em relação a seus filhos de que todos serão bem sucedidos, ricos, e que não terão e nem podem ter nunca, jamais, nenhuma dificuldade em suas vidas contribuem com esse cenário. Ainda os motivos econômicos, capitalistas mesmo, que excluem terminantemente de seus quadros necessários todos os que não possam gerar renda e nem consumo que, evidentemente, colabora substancialmente com essa situação.

No entanto, apesar de conhecer todos esses argumentos e alguns outros que não caberiam perder o meu e nem o seu tempo discutindo aqui, não me satisfaço. Continuo me perguntando: se de fato queremos ter uma sociedade mais justa, mais humana - no sentido primordial da palavra, aquilo que pertence ao ser humano – todos esses “motivos” já existiram tempo suficiente para se tornarem obsoletos, ultrapassados, por que é que afinal toda essa linda gente insiste em achar esquisito, feio, ou sei lá o que, tudo que é apenas diferente.

Até aqui, nada de novo, eu sei. E nem espere nada de novo daqui para baixo também. Porque isso tudo são inquietações para as quais não espero respostas. Quero apenas continuar insistindo para que tudo que seja diferente encontre espaço nessa sociedade do igual. Mas, repare. Existe algo ainda pior. Inventam saídas para tornar as diferenças mais palatáveis para si mesmos. Então é um tal de dizer que esses são anjos, aqueles coitados, outros super-heróis e assim por diante. É de deixar zonza qualquer criatura que tenha um mínimo de cuidado em aceitar alternativas, outros caminhos.
Óbvio e desnecessário salientear que não é dessa forma, a partir desse ponto de vista que justificam suas ações. Quase sempre espalham as boas intenções, até visitam algumas escolas especiais, fazem doação de final de ano, enfim, se vê de tudo um pouco. É verdade, porém, que quase sempre alegam, por exemplo, não poderem incluir quem está excluído da escola, do shopping, da internet, ou do que quer que seja, por despreparo técnico, quando é perceptível o despreparo para a aceitação. É preciso gritar isso. Os professores não estão apenas despreparados para ensinar, as lojas não estão despreparadas para vender, o hospital não está apenas despreparado para atender. São as pessoas, os iguais, os comuns, são todos esses que não estão preparados para viver com o diferente. É essa mentalidade que precisamos mudar. É essa realidade que precisamos descontruir no nosso dia-a-dia.


Comentários

Fábio Adiron disse…
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Paulo Cesar disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse…
È cada um fazendo um pouquinho que mudaremos a realidade.

abraço,

Vilma
Paulo Cesar disse…
Fábio, obrigado pela publicidade...é sempre bom!!!
Vilma, vc tem razão. É no dia-a-dia, mesmo..
Regina Melchior disse…
Gostei muito amor! Precisamos mesmo dabater, difundir, dissolver, destruir. Vou levar seu texto para meus alunos. Quem quer "cuidar" precisa refletir sobre respeito, direito, preconceito!
beijo grande!

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