Meu Pai
Rabiscos insensatos.
Remendos de sentimentos.
Tudo...tudo...tudo...reticências...
Como uma colcha de retalhos que precisa ser descosturada, desmontada, para que possa ter outra cara, outro jeito. Quem sabe, outra função. Confusões que não se fundem, nem temperam o molho da vida concedendo um sabor mais doce. Pânico na periferia. De minha cidade. Do meu mundo. Pânico no centro de meu universo.
Era tarde quando eles chegaram. Trouxeram notícias novas, mas não melhores do que as que esperávamos. O telefone tocara na madrugada e, ao atender, a voz não queria contar, pensou, repensou, escolhendo as palavras, escondendo os sentimentos. Do outro lado, ninguém queria ouvir, ninguém quereria me contar. Falaram para eu ligar, que a notícia, quem amava me daria. Pensei em não fazê-lo, não, eu não, não queria ouvir, não queria acreditar, a vida tão breve, o amor tão profundo, ele que não se desse ao luxo de me abandonar, não agora, que meu filho apenas aprendera a chamá-lo vovô, que eu finalmente largara o vício que me destruía, justamente quando resolvera finalmente me tornar adulto, que não fizesse isso, gritei, gritei, mas quando ouvi, súbito, foi como despencar de uma escada, a mais alta que houvesse, foi como se me tirassem um membro deixando ali a sensação da presença, foi como se o mundo não fizesse mais sentido algum, e até agora, reconstruindo, recomeçando, te procurando dentro de mim mesmo, para sobrepujar a saudade que insiste em pingar de meus olhos.
Amor sem fim.
Comentários
Vilma
Vim retribuir as tuas visitas queridas, e dizer que me emocionei com tuas palavras neste post sobre teu pai.
Muito lindo, mesmo! Que Deus te abençôe, e que Êle restaure completamente teu coração machucado.
Meu pai ainda vive, mas já está bem velhinho...
Uma beijoca, e volte sempre!
Vou te linkar. Neli
Força !