Meu Pai

Rabiscos insensatos.
Remendos de sentimentos.
Tudo...tudo...tudo...reticências...


Como uma colcha de retalhos que precisa ser descosturada, desmontada, para que possa ter outra cara, outro jeito. Quem sabe, outra função. Confusões que não se fundem, nem temperam o molho da vida concedendo um sabor mais doce. Pânico na periferia. De minha cidade. Do meu mundo. Pânico no centro de meu universo.



Era tarde quando eles chegaram. Trouxeram notícias novas, mas não melhores do que as que esperávamos. O telefone tocara na madrugada e, ao atender, a voz não queria contar, pensou, repensou, escolhendo as palavras, escondendo os sentimentos. Do outro lado, ninguém queria ouvir, ninguém quereria me contar. Falaram para eu ligar, que a notícia, quem amava me daria. Pensei em não fazê-lo, não, eu não, não queria ouvir, não queria acreditar, a vida tão breve, o amor tão profundo, ele que não se desse ao luxo de me abandonar, não agora, que meu filho apenas aprendera a chamá-lo vovô, que eu finalmente largara o vício que me destruía, justamente quando resolvera finalmente me tornar adulto, que não fizesse isso, gritei, gritei, mas quando ouvi, súbito, foi como despencar de uma escada, a mais alta que houvesse, foi como se me tirassem um membro deixando ali a sensação da presença, foi como se o mundo não fizesse mais sentido algum, e até agora, reconstruindo, recomeçando, te procurando dentro de mim mesmo, para sobrepujar a saudade que insiste em pingar de meus olhos.



Amor sem fim.

Comentários

Roger Xavier disse…
Fiquei emocionado cara, nós vivemos esse momento juntos, amor sem fim com certeza. "Um Grande Mestre da Vida".
Regina Melchior disse…
Meu amor, sua "pena" transborda sensibilidade... Suas lágrimas com certeza se juntam as dele, lá de cima. um beijo
Anônimo disse…
Paulo, muito lindo, me fez lembrar de meu pai... sei que a saudade aperta no peito mas é preciso guardar os momentos bons e seguir em frente, escrever sobre isso é sinal que já está seguindo em frente...

Vilma
neli araujo disse…
Olá, Paulo César!

Vim retribuir as tuas visitas queridas, e dizer que me emocionei com tuas palavras neste post sobre teu pai.
Muito lindo, mesmo! Que Deus te abençôe, e que Êle restaure completamente teu coração machucado.

Meu pai ainda vive, mas já está bem velhinho...
Uma beijoca, e volte sempre!

Vou te linkar. Neli
Fábio Adiron disse…
O que dizer ? Exceto que o texto está lindo.

Força !
certas cartas disse…
Perdi meu pai dia 22 de agosto de 2009, foi difícil dizer adeus...foi díficil aceitar sua partida...esta sendo difícil a ausência a saudade machuca a alma e a dor de não ter mais seus conselhos que muitas vezes desprezei fere profundamente meu coração...Me pergunto muitas vezes o que ele diria, e porquê de não me preocupar com isso antes, não encontro respostas, só sei que ele faz falta, gostaria de tê- lo aqui... Amei seu texto é lindo, me tocou proundamente... Por coincidencia estava procurando o nome zagner, pessoas com esse nome, significado,etc. E encontrei seu texto sobre como conheceu Regina. Esse é o nome do meu grande amor, ele é meu primo. Meu pai era evangélico, e não aceitava nosso namoro e alguns meses antes de falecer, num almoço em família disse para minha tia que criou o Zagner para que pedisse a ele para não se casar comigo pois ele sentia que não daria certo, ele terminou o noivado em abril, um mês antes do casamento praticamente. e hoje seis meses depois sei que vai se casar com outra, e ja moram juntos, meu coração diz que não, mas será que meu pai estava certo??? nenessinha7@hotmail.com

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